segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A questão de Bernini

"Papa Inocêncio X", carvão, lápis carvão e lápis carvão branco sobre papel marrakech


Um aluno trouxe ao ateliê uma questão bem interessante, a partir do livro Escultura (de Rudolf Wittkower), que intrigava Bernini no seu trabalho de retrato em mármore. Para ele, a ausência de cor na pedra era o grande empecilho na representação fidedigna do modelo, por mais exata que fosse a transcrição dos traços fisionômicos.
A abordagem mais convencional, de descrever a forma com detalhes mais minuciosos, parecia-lhe insuficiente (para ter um exemplo, basta analisar o trabalho de seu concorrente Alessandro Algardi do mesmo tema Papa Inocêncio X). A solução, bem genial, encontrada por ele foi a de aprofundar determinadas áreas para compensar a ausência de cor; em outras palavras, compensar a ausência de cor pela ênfase na manipulação dos valores. A partir daí, passou a guiar-se pela reação dos planos do rosto à luz (representação da luz nas formas) em detrimento da estrita representação da forma.
O grande salto qualitativo dessa perspectiva na escultura pode ser vislumbrado por dois fatores: a conversão do processo prático num sistema mais abstrato e a inserção da aparência (reação do objeto à luz) na prática escultórica como referência da ação.
E algo fundamental e bastante interessante aconteceu: como na pintura, a imagem descolou-se do objeto pelo processo de ordenamento mental.
Este é mais um caso do qual podemos depreender a máxima de que, como diz Betty Edwards, no processo criativo, "tão importante quanto à resposta é a pergunta"...

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